O território de Portugal, com especial incidência no centro e norte, apresenta uma vasta área ocupada por monocultura de eucalipto, quer em exploração intensiva quer em áreas abandonadas e não geridas. Esta circunstância, motivada por questões económicas, apresenta impactes negativos nos ecossistemas, nomeadamente ao nível da paisagem, do solo, dos recursos hídricos, da biodiversidade e da propagação de incêndios florestais.
O SIC “Valongo”, que integra a Paisagem Protegida Regional Parque das Serras do Porto, alberga algumas espécies únicas em Portugal Continental, em locais muito particulares (ex. grutas não exploradas pelo turismo), entre outros habitats e espécies constantes dos anexos da Diretiva Habitats, mas domina a floresta de produção (eucalipto). Este tipo de monocultura intensiva, com impacto no solo, água e biodiversidade, está agora mais sujeita a pressões sociais (devido aos incêndios), fitossanitárias (já detetadas 15 pragas) e económicas (menor rendimento), o que parece antecipar um ciclo de mudança.
Preconiza-se assim o restauro ecológico de mais de 30 hectares de monocultura intensiva, envolvendo os cidadãos. Portanto, através deste projeto, trabalhar-se-ia na reconversão de um eucaliptal, com um historial de mais de duas décadas de exploração, com vista a uma floresta de uso múltiplo, algo inédito em Portugal e que constituiria um laboratório de intervenção florestal muito útil para a região e inclusive para outros territórios com a mesma problemática. Esta intervenção permitiria também promover a expansão de habitats relevantes dados para o SIC “Valongo” mas que se encontram atualmente muito fragmentados, como é o caso das charnecas secas europeias e dos carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica, esperando-se promover também matagais arborescentes de Laurus nobilis e melhorar as condições para uma eventual colonização por Erica ciliaris, que ocorre o SIC "Valongo". Portanto, o projeto não incide nestes habitats mas espera-se futuramente ter a presença dos mesmos na área intervencionada.
O eucaliptal foi alvo de corte final em maio/junho de 2017, verificando-se já o início de regeneração por toiça, pelo que a intervenção teria de começar pelo controlo dos exemplares presentes desta espécie. A expectativa é testar várias metodologias, incluindo desvitalização por via mecânica, por oclusão de luminosidade ou através de métodos biológicos. Em paralelo, promover-se-ia a expansão das espécies nativas, com enfoque inicial nas herbáceas e arbustivas e investimento gradual nas espécies arbóreas (seriam testados distintos métodos de engenharia natural e técnicas florestais: hidrossementeiras, ilhas de vegetação, árvores nativas micorrizadas). As intervenções seriam acompanhadas por equipa técnica especializada e focada no registo, análise e gestão de dados e teriam ainda uma forte componente de participação pública, através de voluntariado ambiental. Dado que se observa nos terrenos vizinhos a presença de espécies invasoras como a austrália e a háquea-picante, haveria uma monitorização regular de modo a prevenir a expansão das mesmas para a área em intervenção.
Não haveria, portanto, uma solução única, mas seriam usadas técnicas complementares (descritas na bibliografia e em casos de estudo práticos) de modo a aferir a viabilidade e eficiência das mesmas
Nos intervenientes incluem-se a Junta de Freguesia de Valongo, proprietária do terreno, e o Município de Valongo, que está a assegurar apoio técnico, assim como a Associação de Municípios Parque das Serras do Porto, entidade gestora da Paisagem Protegida Regional.
O projeto FUTURO – 100.000 árvores na AMP, coordenado pelo CRE.Porto, que resulta de uma parceria entre a Universidade Católica Portuguesa, a Área Metropolitana do Porto e os Municípios integrantes, tem contribuído de forma significativa para a expansão da floresta nativa na região, com uma atuação integrada, e seria um parceiro primordial desta iniciativa.
O território conta com a atuação de uma equipa de Sapadores Florestais, resultante de um protocolo entre o Município e a Portucalea – Associação Florestal do Grande Porto, que poderiam colaborar pontualmente nas ações.
A articulação com a academia, através da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, é já uma realidade e deverá manter-se. Está confirmada a colaboração de um aluno de doutoramento e de duas alunas de mestrado, cujas dissertações se irão focar na promoção da floresta de uso múltiplo tendo este terreno como campo de trabalho; nos próximos anos outros alunos poderão vir a dar continuidade a estes estudos.
Para este projeto necessita-se de apoio financeiro especialmente para assegurar todo o trabalho especializado das intervenções (ex. planeamento, implementação das parcelas experimentais, trabalho mecânico de desvitalização de toiças, manutenções mecânicas ou motomanuais, entre outras), para aquisição de meios individuais necessários ao trabalho voluntário (ex. ferramentas, luvas) e de outros recursos como adubo, tutores e protetores, etc., e eventualmente de sementes e plantas (micorrizadas, por exemplo). Seria também desenvolvida uma componente de comunicação e sensibilização para o projeto, o tema e o território abrangido, assim como formação dos intervenientes e divulgação de resultados.